Apesar da vacinação em massa impedir que o aumento das mortes atinja a proporção das primeiras ondas da pandemia, esta semana outro sinal de alerta acendeu: no dia 17 de maio, a média móvel de óbitos registrou a primeira alta em duas semanas. Na quinta (19), ela voltou a ficar estável.
‘Com base na dinâmica recente dos dados, é possível que já estejamos vivenciando o início da quarta onda de covid: menos letal que as demais por conta da vacinação, mas ainda muito preocupante em razão da ausência de planos de contenção, abandono das máscaras e testagem por parte do poder público’, avalia Wallace Casaca, coordenador da Info Tracker e professor da Unesp.
Para o médico sanitarista Gonzalo Vecina, o aumento no número de casos e internações por covid-19 não se deve a uma nova onda, mas à flexibilização ao uso de máscaras.
‘Isso tudo é fruto do relaxamento social e da falta de máscara, e de levantar o decreto emergência sanitária foi um erro’, afirmou Vecina. Ele se refere ao decreto do presidente Jair Bolsonaro (PL), que em abril pôs fim ao estado de emergência para a covid-19.
Infectologista, a professora de medicina Joana D’arc Gonçalves também diz acreditar na chegada de uma nova onda de contaminações.
Como a gente vai conviver com esse vírus por muito tempo, acredito que uma quarta onda esteja se aproximando e, possivelmente, haverá até outras ondas, dependendo do nosso comportamento.
Joana D’arc Gonçalves, infectologista
A professora lembra que a maioria das restrições sanitárias caiu no Brasil por decisão de estados e municípios. No começo da semana, por exemplo, a Prefeitura de São Paulo acabou com a obrigatoriedade de usar máscara em táxi e de apresentar comprovante de vacinação em eventos na capital. O abandono das máscaras ocorre em todo o país.
‘Além disso, a transmissão de doenças respiratórias é mais alta no frio porque as pessoas ficam mais próximas’, diz a médica. ‘E tivemos o Carnaval recentemente, com muita gente aglomerada. Tudo isso traz consequências.’
A especialista diz não acreditar no retorno das restrições sanitárias, mas espera que o poder público organize campanhas educativas em períodos sazonais, como em tempos de frio.
‘O que temos em mãos é a vacina. É preciso focar nos mais vulneráveis’, afirma a infectologista ao prever convivência longa entre humanos e a Sars-Cov-2.
‘Aguardar por uma política restritiva é complicado, não só pelo governo, como pela população, que cansou.
Lamentavelmente essa decisão foi passada para o indivíduo’, diz ela, que ainda recomenda o uso de máscaras em ambientes fechados, como transporte público.
A gente tem sido pego de surpresa. Pensamos que a alta transmissibilidade da variante ômicron iria enfraquecer o vírus, mas ele continua com suas mutações. Pelo jeito vamos conviver com esse vírus por um bom tempo. Depois da pandemia, será uma endemia, talvez com um vírus mais transmissível, mas também menos letal’, Joana D’arc Gonçalves, infectologista.